Crossfit… nem sei como começar! Depois de ter praticado natação, karate, ténis, e outros desportos, é difícil descrever a marca que o Crossfit está a deixar em mim.
Pratiquei natação quando era miúdo. Pratiquei durante vários anos, quando as piscinas em Coimbra eram outras. Felizmente, para os meus pais era essencial que o fizesse. E ainda bem que assim foi. Graças a isso, e à ausência de computadores e consolas na altura que me obrigavam a brincar na rua o dia todo, fiquei com uma boa preparação física que me tem ajudado ao longo da vida. Quando saí da natação, comecei a treinar karate no ACM de Coimbra, onde andei 3 ou 4 anos. Experimentei o ténis, desporto que só treinei durante dois anos. E, mais tarde, voltei ao karate, desta vez no Bairro Norton de Matos.
Quando fiquei com a mania de que já era “crescido”, e que tinha melhores coisas onde gastar o meu tempo, deixei por completo o desporto. Isto, tirando o facto de que a bicicleta era, e foi durante uns anos, o meu único meio de transporte.
Quando fui pai pela primeira vez, e me apercebi da dependência que uma criança tem dos pais, decidi que estava na altura de voltar a fazer desporto na esperança de que isso me ajudasse a “andar por cá” o máximo de tempo possível. A decisão foi descarregar uma daquelas apps de jogging para smartphones e começar a registar as minhas corridas e o respectivo progresso.
Comecei a correr 3 ou 4 vezes por semana e, inicialmente, a evolução foi brutal. Passadas duas semanas já corria 6 kms seguidos e no fim do primeiro mês estava a correr 8 kms sem abrandar. A partir daí, estagnei um bocado na evolução. Decidi deixar de fumar para ver se resolvia o problema. Resolveu. Ao fim de uns tempos já estava a correr 15 kms pelas ruas de Coimbra, com subidas como a Av. António Portugal, a Av. Elísio de Moura e até da Baixa aos Olivais. A partir daí ganhei outro problema – não tinha disponibilidade para correr tanto tempo. Decidi então começar a correr apenas 10 kms, mas o mais rápido possível. Foi uma maravilha durante uns tempos, mas começou a faltar alguma coisa. Não me conseguia cansar tanto como pretendia.
Por coincidência ou não, por volta dessa altura, o meu amigo e colega de trabalho João Lourenço falou-me num desporto chamado Crossfit, que ele treinava, e que o deixava derreado o resto do dia. Explicou-me em que consistia e não precisou de dizer mais nada. No dia seguinte já tinha uma marcação, na Box do Crossfit Coimbra para ir experimentar.
Antes de continuar sinto-me na obrigação de explicar o que é o Crossfit (ou cross training). O Crossfit é um programa de treino e condicionamento físico, desenvolvido para melhorar as capacidades físicas de qualquer tipo de pessoa, desde atletas de elite, militares, idosos ou jovens. O objetivo do Crossfit é potenciar todas as principais capacidades físicas do ser humano, como a resistência respiratória e cardiovascular, a resistência muscular, a flexibilidade, a força, a coordenação, a potência, a agilidade, o equilíbrio e a velocidade. Os três principais princípios desta modalidade são os movimentos funcionais (que se assemelham bastante aos nossos movimentos diários), a alta intensidade (para o desenvolvimento do melhor condicionamento físico possível) e a variação constante (uma rotina de exercícios diferente todos os dias).
Mas voltemos à história. Estávamos em Setembro de 2015, num dia de muito calor, quando entrei pela primeira vez na Box. Por causa da minha pontualidade britânica, quando cheguei ainda estava a terminar a aula/treino anterior. Mas o que é isto?! Metade da malta em tronco nu, alguns deles (e delas), pareciam saídos de um filme dos Jogos Olímpicos na Roma antiga. Como dizia um colega meu que foi experimentar uma vez e não voltou “Oh pá, a saltar à corda pareciam todos o Terminator!”
Não me deixei intimidar. Afinal de contas, eu era um jovem de 40 anos que corria e não ia precisar de muito tempo para chegar ao ritmo deles. NOT! 🙂
Este primeiro treino foi logo de choque. O WOD era uma Girl. As Girls são benchmarks (treinos que os crossfitters fazem periodicamente para poderem medir a sua evolução). A Girl era a Angie, que é um WOD para tempo, ou seja, deve ser feito no menor tempo possível, e que consiste no seguinte:
- 100 elevações na barra (push-ups)
- 100 flexões (pull-ups)
- 100 “abdominais” (sit-ups)
- 100 air squats (agachamentos)
Para um tipo que corria há cerca de 2 anos, a última parte devia ser fácil, mas primeiro era preciso chegar lá!
Apesar desta primeira experiência, continuei. Fui ganhando força, muita força, resistência, um físico e uma forma para lá do que pretendia inicialmente, e quebrando barreiras que nunca pensei ser possível quebrar nesta idade. Ao fim de uns meses já fazia double-unders, que é saltar à corda a pés juntos, mas passando a corda duas vezes por baixo dos pés em cada salto. Agora já faço alguns triple-unders seguidos. Ao fim de 2 anos, com 42 anos de idade, já fazia cerca de 25 metros em handstand walk (andar a fazer o pino). Agora faço curvas, ando para trás e para a frente, levanto um dos braços, etc. Dois anos antes, se me virasse ao contrário 2 segundos, subia-me logo o sangue à cabeça e ficava cheio de tonturas. Três anos depois de começar a treinar Crossfit, já fazia muscle-ups (elevações na barra ou nas argolas seguidas de um dip, até ficar com os braços esticados e a bacia ao nível da barra).
Neste momento não há muitos (agora até nem me lembro de algum), entre as centenas de movimentos que é possível fazer num treino de Crossfit, que eu não consiga fazer. E tudo isto tendo começado aos 40 anos de idade.
A forma que tenho e sinto actualmente devo-a também ao meu background de desporto que praticava quando era miúdo, sem dúvida nenhuma, mas a gigantesca maioria de responsabilidade é devida ao Crossfit, ao Crossfit Coimbra e aos seus treinadores, que nos obrigam a começar devagar e a ir progredindo com responsabilidade.
Entretanto, e porque o Crossfit é um tópico bastante discutido cá em casa, actualmente também a minha esposa e o meu filho são praticantes desta modalidade.